Era uma noite chuvosa. Corremos para o primeiro restaurante que encontramos em Búzios. Conseguimos fugir daquele toró, mas cheguei com a roupa encharcada. Faltavam apenas alguns minutos e uma mensagem para a minha concepção de Direito Constitucional mudar.
Sentamos à mesa para jantar, logo. Era um aconchegante restaurante italiano de dois andares. Pedi Penne com camarão ao molho branco. Ela quis um talharim à carbonara. Foi quando tudo começou.
– Eduardo, você sempre pede o mesmo prato. – disse ela, mexendo em seus cabelos ruivos.
– Gosto de camarão, Marcela.
– Mas tenta experimentar algo novo. Sempre o mesmo prato. Quer olhar o cardápio?
– Eu gosto do mesmo prato.
– E a sobremesa?
– Petit Gateau de doce de leite com sorvete de creme.
– Sempre a mesma sobremesa.
– Marcela, é o que eu gosto de comer.
– Você já corrigiu as provas? Tem que entregar na quarta.
– Quase tudo. Mas não posso te contar. Você é minha aluna.
– E daí?! Sou aluna de Constitucional III. As provas são de Constitucional II.
– Mesmo assim.
– Só não quero que você atrase. Ah, e que escândalo seria se você discutisse a prova comigo, né?! Você praticamente não reprova.
– Aluno reclama. A coordenação não gosta de se estressar. Já perdi um emprego por isso e medir educação por prova também não resolve.
– Papo longo! Não quero pedir uma sobremesa inteira…
– Marcela, você chegou a ver a decisão nova do Supremo? – disse displicentemente, ignorando um problema que mudaria a minha vida.
– Você esqueceu?! Discutimos sobre ela ontem de madrugada.
– Desculpa, mas eu estava encantado por você. Só consigo me lembrar o quanto você estava maravilhosa. – eu disse sinceramente tentando me safar da gafe.
– E eu só consigo lembrar o quanto é desinteressante você não lembrar do que eu falei. Presta mais atenção, Eduardo. Não gosto de ser ignorada. Ainda mais quando você lembra do meu corpo, mas esquece do que eu penso.
– Veja bem…
– Não tá nada bem. Enfim…
E um anjo passou por este silêncio sepulcral.
– O Supremo decidiu que o Lula pode ser preso. – Ela resmungou.
– Decidiu por manter a prisão em segunda instância. Era previsível.
– Previsível é a sua cara professoral cheia de certezas. Ninguém está mais entendendo o que se passa no Brasil, Eduardo! Tudo o que você pensava sobre Direito Constitucional mudou. É uma interpretação nova a cada decisão.
– A textura da norma constitucional é aber…
– Cada Ministro é déspota do seu próprio entendimento!
– A Rosa Weber quis manter a estabilidade constitu…
– A celeridade constitucional é usada como arma seletiva para a solução de conflitos!
– A Constituição não define cabalmente o conteúdo do princípio da presunção de inocência.
– E precisa?!
– A norma constitucional tem textura aberta.
– Olha, eu tô ficando puta já com este neoconstitucionalismo. Ninguém sabe definir o que é isso direito.
– O neoconstitucionalismo é um movimento híbrido que tem como ponto em comum a ascenção dos princípios como norma jurídica.
– Tem como ponto em comum o que tem textura aberta.
– Existe o mínimo de convergência jurídica sobre o conteúdo de um princípio. É como uma noz no oceano. Difícil de achar, mas se procurar direitinho encontra.
– Puta que pariu! Noz do oceano é a minha vagina.
– Tu tá muito debochada.
– É difícil pra certas pessoas encontrar esta noz?
– É necessário investir no processo comunicativo entre sujeitos alçados em condições mínimas de igualdade de participação no processo democrático. Então, sim, é difícil. – Esnobei.
– Realmente, a minha vagina e uma noz no oceano fazem todo o sentido. Quem inventou essa história?
– Habermas.
– Hum.
– O ponto é que isso tudo envolve política. – Ela insistiu.
– Ninguém nega tanto isso mais; o direito limita a política até certo ponto.
– Até chegar no Supremo Tribunal Federal.
– Marcela, eu vou comer o Petit Gateau mesmo.
– Mas eu não quero comer uma sobremesa inteira.
– Divide comigo. – Eu disse gentilmente.
Não conversamos nada mais significativo naquele dia. Não voltei a vê-la. Ela não quis mais sair comigo. Falou pelo WhatsApp. Sem educação.
“Eduardo, é melhor não nos vermos mais. Decidi voltar com o meu ex. Fiz isso só depois do nosso encontro, ok? Não tava dando certo. Antes que você pergunte, porque já sei como você é: o maior problema é que a gente não se ouve. E assim não dá pra decidir nada direito.
Dois dias depois ela postou uma foto com ele no Instagram. Parecia feliz dividindo um cheesecake de morango em um barzinho simples na Tijuca.
Leia mais: Advogados Inesquecíveis /A Triste Geração dos Constitucionalistas Deprimidos
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