A The Economist, desta semana, trouxe uma matéria interessantíssima e atual, cujo título é “A Ameaça da Esquerda Iliberal”, que eu gosto de chamar de esquerda autoritária.

Eles dizem que algo de muito errado aconteceu com o liberalismo ocidental, porque, no seu cerne, o liberalismo clássico acredita que o progresso humano é provocado pelo debate e pela reforma.

Assim, a melhor maneira de navegar em mudanças perturbadoras, no mundo dividido, é por meio de um compromisso universal com a dignidade individual, mercados abertos e um governo limitado.

Mas esse seria um projeto que estaria em crise, por exemplo, com a insurgência da China, que denuncia o liberalismo como sendo egoísta, decadente e instável.

E, nas democracias ocidentais populistas, a direita e da esquerda se colocam contra o liberalismo, pelo seu suposto elitismo e privilégio.

A The Economist defende que, em 250 anos, o liberalismo clássico ajudou o mundo com um progresso sem paralelos. Esse teste, que o liberalismo está passando é severo, e é importante que os liberais entendam o que está acontecendo e ataquem de volta.

A The Economist alerta que existe um perigo em relação às nossas liberdades públicas. O maior perigo viria, hoje, da direita. Ela cita a lei do Texas restritiva ao aborto, que a Suprema Corte Americana manteve esta semana. A lei limita o aborto até o primeiro batimento cardíaco do feto.

A Revista defende que essa é uma medida contrafática e apela para uma emoção tribal. Diz que os populistas derrubam os edifícios liberais, como a ciência e as regras básicas do direito, criando uma narrativa de que haveria um deep state contra o povo.

Ademais, a The Economist sustenta que o ataque à democracia da esquerda é mais difícil de identificar, porque, junto com a América liberal, haveria uma esquerda iliberal.

O perigo deste novo estilo de política é a erosão da democracia. Essas pessoas se espalharam pelosdepartamentos universitários de elite e, entre jovens graduados, na mídia, na política, negócios e educação.

Eles trazem consigo um horror de se sentirem inseguros e uma agenda obcecada, por uma visão estreita, única, de obter justiça via grupos identitários oprimidos.

Esses grupos trouxeram táticas para impor a sua pureza ideológica, deplataformando os seus inimigos, cancelando aliados, que supostamente teriam transgredido os ideais dessa esquerda iliberal purista.

A The Economist se identifica como parte desses classical liberals e diz que deseja a mesma coisa dos iliberal lefties, que é a esquerda autoritária.

Quer dizer, que as pessoas teriam o direito de florescer, independentemente da sua sexualidade ou raça.

Ambos os liberais compartilham essa suspeição em relação à autoridade e acreditam no desejo de mudança.

Porém, os classical liberals e os iliberal lefties, que seria essa esquerda autoritária, discordam frontalmente sobre como atingirão esses objetivos.

Para os liberais clássicos, essa direção de progresso não é conhecida, precisa ser espontânea e de baixo para cima. Depende da separação dos poderes, do respeito às regras do jogo e que nenhum grupo teria o poder de exercer o controle final sobre tudo.

Afinal, se fosse assim, não estaríamos numa democracia. Porém, essa esquerda liberal coloca o seu poder como centro de todas as coisas.

Eles querem assegurar esse progresso real, porque eles acreditam que o progresso real só vai acontecer após eles verem as hierarquias raciais, sexuais e outras desmanteladas.

Então, a diferença entre os dois grupos seriam as suas estratégias. Essa esquerda não-liberal, que seriam os progressistas, eles apoiariam medidas ativas para impor equidade.

A Revista lembra o ativista chamado Ibram X. Kendi. Ele diz que qualquer política, que não leve em conta a raça, seria, ao fim e ao cabo, racista, se os resultados aumentassem as diferenças raciais entre brancos e negros.

O ativista estaria correto em querer políticas antirraciais efetivas, mas que isso pode acarretar em injustiças, uma vez que indivíduos, e não apenas grupos, devem ser tratados com justiça na sociedade.

As pessoas têm questões macro que elas se preocupam, como o crescimento econômico, o estado de bem-estar social, políticas efetivas contra o crime, meio-ambiente, segurança nacional, etc. Elas não podem ser julgadas simplesmente por serem a favor ou contra determinado grupo identitário.

Os liberais clássicos acreditam em trade-offs e numa sociedade pluralista, enquanto a esquerda autoritária acreditaria que o mercado de ideias estaria vilipendiado e não funcionaria direito.

Assim, para ela, evidências e argumentos seriam maneiras de exercer o poder da elite contra as minorias políticas.

A The Economist trata desta diferença entre as esquerdas. Ela diz que os progressistas da velha escola continuariam defendendo a liberdade de expressão, enquanto a a esquerda autoritária acreditaria, que, na verdade, a igualdade requer uma colocação mais frontal contra os privilegiados e reacionários.

Isso significaria restringir a liberdade de expressão deles, usando um sistema de casta de vitimização, para clamar justiça restaurativa. E também deveria punir esses reacionários deplataformando eles e realizando as políticas de cancelamento.

Citando o Milton Friedman, a Revista afirma que a sociedade que coloca igualdade à frente da liberdade, acaba sem nenhum dos dois valores.

A esquerda autoritária acredita que tem o plano infalível para liberar os grupos oprimidos, poré , na verdade, o que eles teriam é uma fórmula de opressãovindividual, que não seria muito diferente dos planos da direita populista.

Ambos os grupos populistas, tanto de esquerda quanto de direita, colocam o seu projeto de poder à frente do processo democrático.

Acreditam que os fins justificassem os meios e a liberdade das pessoas não faria mais sentido algum para eles.

Quando os populistas colocam o partido acima da verdade, eles sabotam um bom governo, dividem as pessoas em castas competitivas e colocam a nação contra ela mesma.

A The Economist adota a tese da antipolarização, sustantando que ambos os grupos extremos alimentam eles mesmos, de maneira patológica.

A democracia requer a defesa do direito do seu oponente de falar, mesmo quando você sabe que ele está errado. Você deve estar pronto para questionar as suas crenças mais profundas.

É necessário aceitar a vitória do seu adversário político nas urnas, mesmo se você entender que o seu país irá à ruína nas mãos dos seus oponentes.

Respeitar a democracia é ser genuinamente liberal e progressista, mas os autoritários acreditam que a intolerância é mecanismo de mudança. Focam nas questões de injustiça e deixam a democracia para lá.

Precisamos ficar atentos, pois os lados extremos da polarização podem erodir a democracia. Temos o dever de enfrentar os bullies, que querem destruir os princípios constitucionais em nome das suas ideologias.