Estudos recentes da psicologia social têm investigado os impactos dos relacionamentos líquidos, do sexo casual e do histórico de muitos parceiros na mente humana.

Atualmente, a psicologia analisa o mal-estar dos relacionamentos contemporâneos, que Bauman denunciou há anos, em seu Amor Líquido – Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos.

A cultura dos hookups trouxe uma lógica de sexo sem intimidade, onde um utiliza o corpo do outro como instrumento de prazer momentâneo. Há indícios, no entanto, que essas experiências trazem consequências negativas para a saúde mental de ambos os gêneros.

Nesse sentido, este artigo apresenta discussões científicas que relacionam o histórico de múltiplos parceiros com a infidelidade e os possíveis malefícios do sexo casual. Afinal, pessoas com histórico de múltiplos parceiros traem mais? Ações passadas são fator de risco para um relacionamento monogâmico futuro?

1. A monogamia é uma orientação sexual

A Dra. Elizabeth A. Sheff, especialista em estudos de poliamor, reconhece que poligamia não é uma experiência para todos e que casais não devem utilizar essa estratégia para tentar consertar relacionamentos quebrados.

Em mais de 25 anos de estudo psicanalítico, Sheff defende que a monogamia é uma orientação sexual. Pessoas monogâmicas costumam encontrar felicidade no relacionamento a dois e não vêem problemas em ter relações apenas com um parceiro.

A monogamia como orientação sexual não requer esforço. Flui naturalmente.

Assim, meu objetivo aqui é dar conhecimento a uma pessoa monogâmica, para que ela possa escolher um parceiro que tenha a mesma orientação sexual. Relacionar-se com uma pessoa que tenha a mesma orientação sexual que você é uma questão de dignidade. Já mentir sobre essa condição essencial é gashlighting e, portanto, abuso emocional.

Pessoas monogâmicas também merecem felicidade. Dar a elas o conhecimento para encontrar o parceiro ideal é uma pretensão legítima.

Quando falamos a verdade para um parceiro que espera ouvi-la, agimos com responsabilidade emocional e respeitamos as escolhas dos outros. Mentir sobre quem se é faz de um relacionamento uma ilusão, gerando sofrimento e aumentando o risco de relações abusivas.

Quando há compatibilidade mútua, aumenta-se as chances de felicidade nos relacionamentos. A verdade é o caminho para a compatibilidade e, portanto, para a felicidade conjugal.

Falar a verdade evita que você perca tempo com pessoas incompatíveis. A mentira só é útil para quem quer enganá-lo. E, é claro, quem quer te enganar, não gosta de você.

2. Históricos de múltiplos parceiros levam à traição

Existem diversos fatores que levam à infelicidade e traições podem ter vários sentidos em um relacionamento.

Assim, não existe apenas um fator que leva à traição, porém o número de parceiros ao longo da vida é um deles. Isso porque sexo casual e múltiplos parceiros indicam tendência à poligamia, e não à monogamia:

  1. Múltiplas relações sexuais podem estar relacionadas a um transtorno de personalidade (borderline, transtorno histriônico, narcisismo, sociopatia ou psicopatia), portanto, ao estabelecimento de uma relação sombria e perigosa;
  2. Estudos relacionam múltiplos parceiros sexuais com alcoolismo ou uso de drogas. Como o sexo casual não possui intimidade, a hipótese é que a pessoa usa as substâncias para conseguir se envolver nesse tipo de atividade. Sexo casual e dependência química se retroalimentam;
  3. Múltiplos parceiros podem indicar auto-estima baixa, a partir de uma necessidade constante de validação dos outros, para que haja uma sensação momentânea de bem-estar;
  4. Histórico de relações sem intimidade indicam experiência acerca dessas relações, mas inexperiência em relacionamentos bem-sucedidos de longo prazo. Assim, a pessoa tende a comparar um relacionamento monogâmico em crise, com as sensações momentâneas de bem-estar dos relacionamentos líquidos, voltando aos comportamentos sexuais passados, que remontam às suas primeiras experiências sexuais.

Múltiplos parceiros e sexo casual não levam necessariamente à infidelidade, mas é um fator de risco que leva à traição. Ao evitar esse tipo de comportamento, aumenta-se a possibilidade de se ter um relacionamento saudável de longo prazo.

Segundo o Dr. James L. McQuivey (Ph. D. da Universidade de Syracuse), a infidelidade é uma questão de prática, prática, prática. Quanto mais relacionamentos sem intimidade a pessoa teve, maior é a probabilidade dela voltar a praticar esse tipo de comportamento.

McQuivey constatou que, em casamentos, a taxa de infidelidade quase dobra, quando se compara pessoas que tiveram menos experiências sexuais, em relação àquelas que tiveram cinco ou mais parceiros sexuais.

De acordo com essa pesquisa, 49% das pessoas com menos parceiros disseram que a sua primeira vez foi com alguém que amava, em comparação a 37% das pessoas com mais parceiros sexuais.

Da mesma forma, 42% das pessoas com menos parceiros relataram que a sua primeira vez foi no contexto de um relacionamento prolongado. O número é de apenas 30% para aqueles que tiveram mais parceiros. Apenas 27% dos que têm menos parceiros disseram que fizeram sexo com o cônjuge antes de se apaixonarem.

Em relação aos que tinham menos parceiros sexuais, 45% relataram não olhar para pornografia, em comparação com 31% daqueles com mais parceiros sexuais.

Menos parceiros sexuais está relacionado a mais intimidade nos relacionamentos e mais experiência em construir relacionamentos sólidos. Múltiplos parceiros demonstram experiência apenas em construir relacionamentos líquidos, o que é imprestável para a construção de uma felicidade conjugal de longo-prazo.

relacionamentos amorosos

Quem tem experiência em relacionamentos líquidos, mas inexperiência em relacionamentos sólidos, tende a voltar ao sexo casual ao enfrentar crises conjugais. Sem referências de intimidade, ainda mais se teve uma família desestruturada, a pessoa faz comparações superficiais e, portanto, trai.

Necessidade de validação emocional é um fator-chave para os relacionamentos. Se uma pessoa se programou para sentir esse tipo de validação por sexo casual, obtendo satisfação pelo fato de ser desejada por muitas pessoas, será mais difícil se programar para se satisfazer com uma pessoa só.

3. A mentira é caminho da traição

É possível que esta pessoa mude? Sim, mas você não tem como contar com isso. Se você tem maturidade para um relacionamento monogâmico, precisa buscar uma pessoa que também esteja pronta.

Lembre-se: mudar é difícil. O mais provável é que pessoas repitam comportamentos passados, ainda mais se tiverem na vida histórico de traições.

Em estudo publicado no Journal Archives of Sexual Behaviour, concluiu-se que uma pessoa que já traiu uma vez tem 3 vezes mais chances de trair novamente, quando comparada a uma pessoa que nunca traiu.

Em pesquisa realizada na University College of London, o Dr. Neil Garrett descobriu que pessoas que mentem tendem a cometer adultérios. Uma traição, portanto, começa nas pequenas mentiras.

Quanto mais uma pessoa mente, menos mal ela sente ao praticar mentiras. Atos repetidos de desonestidade provocam uma redução na resposta emocional negativa às mentiras.

A região do cérebro da amígdala fornece uma reação negativa quando mentimos. No entanto, cada vez que o fazemos, a resposta fornecida pela amígdala enfraquece. Com o tempo, nos sentimos menos culpados por mentir.

A primeira vez que cometemos adultério, nos sentimos mal por isso. Mas da próxima vez, sentiremos-nos menos mal e assim por diante.

Novamente, como se chega a um adultério? Prática, prática, prática.

4. Homens ainda traem mais que as mulheres

De acordo com uma pesquisa do Departamento de Psicologia e Neurociência da Universidade do Colorado Boulder, o homem ainda trai mais, mas as mulheres têm reduzido a diferença e as taxas de infidelidade têm se tornado semelhantes.

A boa notícia é que a porcentagem de infidelidade se manteve constante ao longo dos últimos 17 anos e podem ser mais baixas do que as crenças populares midiáticas sobre sexo extraconjugal.

No mesmo estudo, o professor de psicologia Mark Whisman conclui que experiências anteriores de traição, atitudes mais permissivas em relação ao sexo extraconjugal e uma maior aceitação do sexo casual aumentam as chances de traição.

5.Muitos parceiros sexuais diminuem a qualidade de um casamento futuro

A tendência é que aumentar a contagem de companheiros de cama, enquanto você é solteiro, reduz a qualidade do relacionamento sério, que você pode estabelecer a longo prazo.

A sua história sexual influencia no número de pretendentes interessados em você. Tanto para homens quanto para mulheres, a regra é a mesma: quanto menos parceiros sexuais, mais interessante a pessoa é para relacionamentos sólidos. Quanto mais amores, menos amor.

Eu acho que seria um erro supor que as mulheres não se importam com a história sexual de um potencial interesse amoroso – especialmente se ela está preocupada com a capacidade dele de ser um parceiro fiel a longo prazo. (Marina Adshade, Ph.D., University of British Columbia)

Pesquisadores da Universidade Brigham Young sugerem que cada parceiro sexual passado adicional reduz a qualidade da sua vida sexual, o nível de comunicação com o cônjuge e a estabilidade do relacionamento.

Segundo Adshade, pessoas que tiveram muitos parceiros sexuais têm um mercado de casamento mais limitado do que aquelas que tiveram poucos parceiros sexuais no passado.

6. O Sexo Casual como Fator de Doença Mental

De acordo com Susan Krauss, professora emérita de psicologia da Universidade de Massachusetts Amherst, a chance de desenvolver dependência de drogas e álcool aumenta quase linearmente em relação ao número de parceiros sexuais.

Para homens e mulheres, levando em consideração distúrbios psicológicos anteriores, as chances de desenvolver dependência de substâncias aumentam de acordo com o número de parceiros sexuais.

A explicação é que pessoas que têm um estilo de vida arriscado tendem a ter um número maior de parceiros sexuais. Posteriormente, o número reiterado de relações sexuais sem intimidade colaborará para o desenvolvimento de problemas de saúde mental.

Também é possível que as pessoas que fazem sexo com vários parceiros estejam em situações em que o álcool e as drogas existem e, portanto, sejam as que desenvolverão a dependência de substâncias ao longo do tempo. (Susan Krauss)

Novamente, a hipótese é que a natureza das relações sexuais casuais é um fator de risco por si só, porque são relacionamentos impessoais, sem potencial para proporcionar satisfação emocional.

Além dos riscos conhecidos de contrair DSTs, desenvolver gravidezes indesejadas, ser estuprada ou agredida, as pessoas que se envolvem em sexo casual podem sofrer danos emocionais que permanecerão durante a vida.

Em outra pesquisa, Krauss explica que estudantes universitários que se envolveram em sexo casual relataram níveis mais baixos de auto-estima, satisfação com a vida e felicidade em comparação com aqueles que não fizeram sexo casual no mesmo mês.

Os estudantes relataram ainda maior índice de ângustia, depressão e ansiedade. Tanto homens quanto mulheres relataram se sentir mal com o sexo casual. Assim, há dados que comprovam que sexo casual é um mau presságio para a saúde mental e a auto-estima.

Espero que este artigo te ajude a construir relações humanas mais saudáveis e sirva como instrumento para que você encontre alguém que te ame e respeite.

Até o próximo artigo sobre o assunto!

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