Eu não acho que alguém deva ser infeliz para ser militante. Quando a Lumena, do big brother, saiu do programa, ela falou: “eu não queria ser só uma militante”.

É como se ela dissesse que não queria fazer só política com ódio. O Antonio Negri critica essa militância que faz política com ódio. Na filosofia do Negri tem essa coisa de alegria, de você não fazer militância sem amor político.

A gente caiu no redemoinho do ódio. Nesse mito do ódio como grande transformador da sociedade. Na verdade, muitas pessoas fogem do ódio e tentam encontrar as políticas, que estejam de certa forma fora desse ódio. Tem os ressentidos e aqueles que fogem do ódio, buscando alguma posição política de amor e de construção social: tentam desesperadamente encontrar outras saídas políticas.

Spinoza reconhece a alegria da destruição daquele que machuca um amigo. Assim, quando alguém faz mal para você, ou para quem você gosta, você se sente alegre. A gente tem que reconhecer como funcionam os sentimentos humanos. Quando quem está no poder cair, se ela tiver feito mal a determinadas pessoas, é natural que elas sintam alguma alegria com a queda, com essa destruição. Mas isso não tem necessariamente a ver com ódio.

Do ódio nada de bom pode surgir. Não é o schadenfreude: o deleite derivado da destruição dos outros. Isso é uma coisa que está acontecendo muito com o cancelamento: as pessoas veem “justiça” no deleite da destruição dos outros. Os canceladores se regozijam no fato do outro estar sendo queimado, destruído e humilhado.

Isso vem forte na relação entre os gêneros também, infantilização e ressentimento. A mulher sente prazer no homem se destruindo e o homem sente prazer na mulher se destruindo. É uma sociedade presa na cultura do ressentimento e destruição.

Devemos ficar felizes porque fomos liberados da opressão, diante do aumento do nosso poder de alegria, e não com o mal dos outros. Devemos ficar felizes, pois agora estamos livres e liberados da prisão.

O Negri busca uma esquerda que não está centrada no Estado. A nossa esquerda ainda é muito ligada ao Estado e ao poder de estado. A solução não é o capitalismo e nem o socialismo de estado. A solução seria a construção do comum: de um espaço em que a gente possa liberar os nossos afetos e viver a nossa vida com mais justeza. Não podemos ser consumidos nem pelo privado nem pelo público.

O governo deve suportar acumulação de conhecimentos científicos e sociais, justamente para evitar os conflitos sociais negativos e possibilitar encontros de felicidade. Há uma ideia de pluralismo em Antonio Negri.

Precisamos construir instrumentos democráticos para que haja o governo do comum, das pessoas, participando mais do espaço público, vivendo a sua felicidade em comum. Não conseguiremos isso com o cancelamento, pois é uma política do ódio, do ressentimento e da infantilidade. São Tomás de Aquino nos lembra que não devemos acreditar que vamos destruir os inimigos envenenando a nós mesmos.

Outra luta política importante é defender a vida contra a miséria. São necessários programas públicos, que vão ser pressionados pelo comum, por todos nós, para que haja vida no combate da miséria. Principalmente, programas de renda mínima e de saúde pública.

Negri aposta no poder da criação e da inovação. É uma coisa que parte da esquerda brasileira tem dificuldade. Ainda centrada no estado e nos seus caudilhos, ela impede e dificulta o surgimento de novas lideranças. Tudo tem que estar dentro do guarda-chuvas do partido. A criação e a inovação ficam em segundo plano.